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"Somos formados e moldados pelos nossos pensamentos. Aqueles cujas mentes são construídas sobre pensamentos altruístas espalham alegria através de suas palavras e ações. A alegria os segue como uma sombra e nunca os abandona.” (Buda)

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domingo, 23 de janeiro de 2011

[Mais] feliz

Por Karina Lima

Perguntem a 10 pessoas o que elas querem da vida, e preparem-se para uma resposta clichê e unânime: todo mundo quer ser feliz. Sem demagogias ou explicações, a tal felicidade é conquista mais cobiçada do que par de sapatos Loubotin, mais desejada do que ala VIP no show do U2. Curiosamente, essa gente toda podia querer uma infinidade de coisas, trabalha duro para dominar o mundo, e no final só deseja aquilo que os contos de fadas prometiam: o ‘felizes para sempre’.

Em uma das minhas 4.752 reflexões existenciais dessa semana, mirando o trânsito da Marginal Tietê brincar de estátua, eu retrocedia a um tempo que não vivi: nos modelos anteriores de sociedade, a grotesca força das tradições e da religião criava grandes mordaças que impediam a manifestação mais pura e marota da felicidade. A repressão era tanta, que todo ser só tinha forças pra se angustiar e sofrer. 'Fase mais cretina', pensei alto.

Hoje é absoluta-e-totalmente diferente. Ou não, convenhamos.

A nossa modernidade trouxe iPhones, reality shows, redes sociais, micaretas, tendências fashion, modas, tribos e outros recursos incríveis para preencher um amplo galpão: o nosso bom e velho vazio existencial da pós-modernidade. A pressão é tanta, a necessidade de parecer um ser bem sucedido, resolvido e relacionado é tão aterradora, que com toda essa globalização e avanço costumo dizer que retrocedemos a largos passos. Conheço gente de todo tipo de pedigree social que só leva o tempo em se consolar e se deprimir. Mas esperem: a liberdade é tanta, a neura com a saúde é tão surreal... que todo mundo deveria ficar super feliz com essa perfeição toda, certo? Errado. Conhecemos o reino da felicidade paradoxal: ter tudo nas mãos mas, lá no fundo, não ter coisa alguma. Para uns, tristes são os tempos modernos.

Conheço bem dois novos vilões desse milênio: a piscina e o SPA – todo mundo cultuando o próprio corpo, olhando só pro umbigo e aplicando botox até nos cotovelos. Vejo gente por aí que tem a cara igualzinha ao solado de um tamanco de madeira: aquela coisa lisa, artificial, bizarra. A vida é tão dura, o peso dela é tamanho, estamos tão esmagados pela dor do atraso de quem está sempre em beta, a rotina é tão maçante, que é normal precisarmos de auto-recompensas: compramos desenfreadamente como se o amanhã não existisse, consumimos chocolates como se calças jeans fossem super elásticas, malhamos como se tivéssemos que queimar as calorias presentes em um boi inteiro e sedentário de trocentos quilos. Fazemos yogapra calibrar o espírito, vamos à terapia e somos ultra conectados. Aham. Tudo isso ao mesmo tempo e agora, sem necessária ordem, razão ou lógica.

Temos pressa. De quê, eu sinceramente não sei. Dos nossos novos absurdos, o melhor deles é a felicidade virtual: na internet, há uma avalanche de alto-falantes da turma do“alooou, sou feliiiiiz pra caramba!” – eu me pergunto por que felicidade virou obrigação social, ou cortina de fumaça pro exato contrário na vida real. Dou até risada de umas mulinhas que dizem ser invejadas pela sua alegria irritante e plenitude de vida, provocando uma certa platéia-alvo covardemente. É de procurar a faquinha de Pão Pullman pra cortar os pulsos, não?

Quem me dera se toda gente por aí simplesmente praticasse o bem, sorrise, mentalizasse o bom, agradecesse o que há pra agora, usasse da gentileza e desativasse a vitrine do desfile de felicidades mal-fabricadas, aquelas que vieram do Paraguai. Essa onda já passou, ficou démodé, cansou.

Tendência e moda são, acreditem, ser gente de verdade: com remelas, tropeçando, sentindo medo, preguiça, fazendo tolices, acordando com o cabelo do Rei Leão, tentando acertar, olhando nos olhos dos outros, encarando a vida de frente. Nesse quesito, a minha coleção primavera-verão 2011 já está aí, na passarela mais próxima de vocês.

Penso que o jeito é 'fazer carão' todos os dias e desfilar minha felicidade que vez ou outra apresenta alguns sintomas de mau contato, mas que é 100% real e garantida quando se revela, da maneira mais natural.

Fonte: www.mulherices.com.br

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