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"Somos formados e moldados pelos nossos pensamentos. Aqueles cujas mentes são construídas sobre pensamentos altruístas espalham alegria através de suas palavras e ações. A alegria os segue como uma sombra e nunca os abandona.” (Buda)

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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Para que serve a arte contemporânea?

O título contém já uma falácia. A arte não tem de obrigatoriamente de servir para nada. Ou tem? Partamos do princípio que sim, que tem de ter alguma utilidade, mesmo que seja do universo mais íntimo e pessoal e nunca chegue a ser vista por mais do que meia dúzia ou, no limite, uma pessoa apenas. Este é um post muito pessoal, com uma opinião muito pessoal.

Noutro dia, em conversa ao almoço, ouvi sobre a arte contemporânea uma frase que não ouvia há muito tempo: “até eu fazia aquilo”. Apercebi-me, após três livros escritos com muito suor que é no verbo fazer que está a diferença. A arte não está nos museus e nas galerias, nas livrarias e nas salas de cinema e de concerto, não está nas paredes e nunca, nunca está acabada. A arte é um verbo, como o amor, é uma ação, é uma palavra de “fazer” e não de “estar”. Por isso é que nem toda a gente é artista.

Pode ser-se artista por ter talento indizível, por se querer ganhar dinheiro, por se trabalhar sem dormir, por se ser psicologicamente instável, por intuição ou racionalidade puras, por raiva, por amor, por tristeza ou imensa alegria, mas nunca se pode ser artista parado. Um artista é alguém que faz. É alguém que age sobre um motivo, seja ela a beleza ou o nojo, a morte ou uma lata de sopa de tomate. E ao fazer, mesmo que nunca fosse essa a sua intenção, interroga. A si próprio, aos que o rodeiam ou ao passado, a toda a sociedade ou apenas a uma restrita plateia.

É claro que nem toda a arte nasce igual, porque por muito que quiséssemos, nem todos colocamos as mesmas perguntas da mesma maneira, com a mesma acuidade; uns serão recordados para sempre, outros cairão no esquecimento, alguns poderão ser redescobertos passados duzentos anos, a maior parte será apenas mais uma pincelada no espírito do tempo.

Todo este preâmbulo para ter uma opinião. A arte contemporânea está em grande parte mercantilizada e industrializada. No princípio do século passado, Duchamp demonstrou que bastava mudar o urinol de sítio e posição para ele nos interrogar como, digamos, um quadro. Não é por grandes obras serem produzidas por gênios displicentes que acabam a ganhar fortunas que devemos, numa espécie de esnobeira invertida, desprezá-los. Apenas os critérios mudaram e a arte deixou de ser, dominantemente, a arte do “belo”.

Hoje, a arte, como grande parte da atividade humana, é a procura de limites, interiores e exteriores, visuais e materiais, de tempo e espaço, usando como plasticina todas as tecnologias ao dispor do artista, do clássico escopro ou pincel a robôs no limite da consciência, a instalações vídeo, camas com lençóis sujos ou... quadrados pretos sobre fundo preto.

Fonte: http://obviousmag.org/archives/2007/11/para_que_serve.html#ixzz1AIOMeHwQ

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