A arte contemporânea traz o inusitado e o improvável para as salas de exposição, inclusive com o uso de materiais pouco convencionais, cujo uso original parece ser subvertido. Que materiais nos servem para se fazer uma escultura? Será possível fazer esculturas de papel? Parece que sim.
Os trabalhos de Karen Sargsyan, armênio que vive em Amsterdã, são instalações compostas de esculturas de papel e argila que chamam a atenção por sua leveza e fragilidade (e efemeridade), mas também pela incrível capacidade de transmitir movimento e expressão e de aparentar vida própria. Dobradas, cortadas e curvadas com muita sensibilidade e técnica, as camadas de papel colorido, quase sempre visto como superfície, como suporte, adquirem volume e dinâmica. As figuras são teatrais, e compõem cenas, gestos dramáticos congelados no tempo: por um momento lembram as máscaras gregas da tragédia e da comédia.
Uma tesoura feita de papel aos pés de uma figura humana também esculpida sentencia: somos também os escultores de nós mesmos. Pedaços de papel no chão, o trabalho deste artista reflete o processo do fazer: transformação da natureza em cultura em que a obra pode ser o ateliê em si, a invenção de uma maneira de esculpir. Por isso não são apenas esculturas, mas instalações.
Sargsyan diz tentar representar povos e situações vistos sem influências externas, o cerne de como as coisas realmente seriam - sem máscaras, fora das representações. A missão utópica, entretanto, não cria algo além de um “teatro dentro de um teatro”, nas palavras do próprio artista. Restam figuras cheias de vida e de expressão, representações de nós mesmos retiradas do papel com muita poesia e destreza.
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