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"Somos formados e moldados pelos nossos pensamentos. Aqueles cujas mentes são construídas sobre pensamentos altruístas espalham alegria através de suas palavras e ações. A alegria os segue como uma sombra e nunca os abandona.” (Buda)

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quarta-feira, 12 de maio de 2010

O Epicurismo

Como sabemos, Sócrates queria descobrir como é que o homem pode viver uma vida feliz. Cínicos e estóicos afirmavam que o homem devia se libertar do luxo material. Mas Sócrates teve também um discípulo que se chamava “Aristipo”. Para Aristipo, a finalidade da vida era obter o máximo prazer sensível. O supremo bem era o prazer, e o grande mal era a dor. Por isso, queria desenvolver uma arte de viver que evitasse todas as formas de dor. (O objetivo que norteava os cínicos e os estóicos era suportar todas as formas de dor, algo bem diferente de procurar evitá-la intencionalmente).

Cerca do ano 300 a.C., “Epicuro” (341-270 a. C.) fundou em Atenas uma escola de filosofia. Desenvolveu a ética do prazer de Aristipo e combinou-a com a teoria atomista de “Demócrito”. Segundo se diz, os epicuristas reuniam-se num jardim. Por isso, foram também designados "filósofos do jardim". Por cima do portão do jardim diz-se que estaria escrito: "Estranho, aqui serás feliz. Aqui, o prazer é o bem supremo". Epicuro esclareceu que o resultado agradável de uma ação tem de ser sempre confrontado com os seus eventuais efeitos secundários. Se alguma vez comeste chocolate a mais, sabes o que ele quer dizer. Caso o não tenhas feito, proponho-te o seguinte trabalho de casa: pega no teu salário e compra cem coroas de chocolate. (Suponho que gostas de chocolate.) Nesta tarefa, o importante é comeres todo o chocolate de uma vez. Cerca de meia hora depois de teres comido esse excelente chocolate, compreenderás o que é que Epicuro queria dizer com "efeitos secundários".

Epicuro sustentava a idéia de que não existia vida após a morte e, por isso, não havia motivos para se preocupar com o que podia acontecer no além, pois tudo acabaria ao morrermos. Além disso, a doutrina epicurista afirmava que existiam diversos mundos e, no espaço entre eles, os intermundos, o lugar onde os deuses viviam, completamente desinteressados da vida dos homens. Já que as divindades desprezavam a vida humana, não influenciando em nada a existência das pessoas, não seria adequado preocupar-se com a ação dos homens em suas vidas.

Epicuro pretendia confrontar um resultado agradável, em curto prazo, com um prazer maior, mais duradouro ou intenso em longo prazo. (Podemos, por exemplo, imaginar que decides não comer chocolate durante um ano porque preferes poupar todo o teu dinheiro para uma bicicleta nova ou para uma viagem ao estrangeiro.) Ao contrário dos animais, o homem tem a possibilidade de planejar a sua vida, tem a capacidade de fazer um "cálculo dos prazeres". O chocolate é naturalmente um valor, mas a bicicleta e a viagem para Inglaterra também o são. Mas Epicuro também sublinhava que "prazer" não era necessariamente o mesmo que prazer físico - por exemplo, chocolate. Também a amizade e a contemplação de uma obra de arte podem ser agradáveis. Uma condição para a fruição da vida são também antigos ideais gregos como o autodomínio, a temperança e a serenidade, porque a concupiscência tem de ser refreada. Deste modo, a serenidade também nos ajudará a suportar a dor. Os freqüentadores do jardim de Epicuro eram principalmente homens atormentados com angústias de natureza religiosa. Neste sentido, a teoria atomista de Demócrito era um remédio útil contra a religião e a superstição. Para termos uma vida feliz, é bastante importante superarmos o medo da morte. Nesta questão, Epicuro recorre à teoria de Demócrito sobre os "átomos da alma". Talvez te lembres que Demócrito não acreditava na vida além da morte porque os "átomos da alma" se dispersavam em todas as direções. "Porque é que haveríamos de ter medo da morte?", perguntava Epicuro. Porque enquanto existimos, a morte não está aqui, e logo que ela vem, nós não existimos." (Com efeito, nunca um homem se afligiu por estar morto). O próprio Epicuro resumia a sua filosofia libertadora através daquilo “a que chamou o remédio quádruplo: Não precisamos temer os deuses. Não precisamos de nos preocupar com a morte. É fácil atingir o bem. O mal se suporta facilmente”. Na Grécia, não era uma novidade comparar a tarefa do filósofo à do médico. Segundo Epicuro, o homem deve munir-se de uma "farmácia portátil filosófica" que, como dissemos, contém quatro medicamentos importantes. Ao contrário dos estóicos, os epicuristas interessavam-se pouco por política e pela sociedade. "Vive escondido!"era o conselho de Epicuro. Podemos talvez comparar o seu jardim com o modo de viver de algumas comunidades de hoje. Também no nosso tempo muitos procuram um lugar onde se possam refugiar para fugir à sociedade. Após a morte de Epicuro, muitos epicuristas orientaram-se apenas no sentido de uma busca constante de prazeres. O seu mote passou a ser: "vive o momento!". O termo "epicurista" é hoje aplicado pejorativamente a uma pessoa que vive apenas para o prazer.

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