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"Somos formados e moldados pelos nossos pensamentos. Aqueles cujas mentes são construídas sobre pensamentos altruístas espalham alegria através de suas palavras e ações. A alegria os segue como uma sombra e nunca os abandona.” (Buda)

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terça-feira, 11 de maio de 2010

O Neoplatonismo

Vimos que cínicos, estóicos e epicuristas se baseavam na doutrina de Sócrates. Além disso, recorriam aos pré-socráticos Demócrito e Heráclito. Por seu lado, a mais notável corrente filosófica da Antiguidade tardia inspirava-se principalmente na teoria das idéias de Platão, sendo por isso, designada por "neoplatonismo".

O neoplatônico mais importante foi “Plotino” (por volta de 205-270 d.C.), que estudou filosofia em Alexandria, e se transferiu posteriormente para Roma. Devemos notar que ele vinha de Alexandria, cidade que era já há muitos séculos o grande ponto de encontro da filosofia grega e da mística oriental. Plotino levou consigo para Roma uma doutrina de salvação que se tornaria uma séria concorrente do cristianismo que começava a afirmar-se. Mas o neoplatonismo também haveria de exercer uma forte influência na teologia cristã. Lembram-se da teoria das idéias de Platão? Sabemos que ele distinguia o mundo inteligível do mundo sensível. Desse modo, também distinguia claramente a alma do homem do seu corpo. Assim, o homem tornou-se um ser duplo: segundo Platão o nosso corpo é constituído por terra e pó, tal como todas as outras coisas que pertencem ao mundo sensível, mas possuímos também uma alma imortal. Esta concepção já estava difundida na Grécia muito antes de Platão. Plotino estava também familiarizado com concepções asiáticas semelhantes. Plotino via o mundo separado em dois pólos. Num extremo está a luz divina, que ele designava por “Uno”. Por vezes, chamava-lhe também “Deus”. No outro extremo reina a escuridão total que a luz do Uno não alcança. Mas para Plotino, essa escuridão não existe de fato. É apenas uma ausência de luz - sim, não é. A única coisa que existe é Deus ou o Uno, mas tal como uma fonte luminosa se perde progressivamente na escuridão, também há um limite para o alcance dos raios divinos. Para Plotino, a luz do Uno ilumina a alma, ao passo que a matéria é a escuridão que na realidade não existe.

Mas as formas da natureza também possuem um fraco reflexo do Uno. Imagina uma enorme fogueira que arde de noite, Sofia. Do fogo jorram centelhas em todas as direções. Em redor da fogueira a noite fica iluminada, e a alguns quilômetros de distância ainda se pode ver um débil clarão. Se nos afastarmos ainda mais, vemos um minúsculo ponto luminoso, como uma lanterna à noite. E se nos afastarmos ainda mais da fogueira, deixamos de ver a luz. Os raios luminosos perdem-se algures na noite, e quando está totalmente escuro, não vemos nada. Nessa altura, não há sombras nem contornos. Imagina agora a realidade como se fosse esse fogo. O que arde é Deus - e a escuridão exterior é a matéria gelada de que homens e animais são feitos. Junto de Deus estão as idéias eternas que são os arquétipos de todas as criaturas. A alma humana é principalmente uma "centelha do fogo". Mas em toda a natureza brilha um pouco dessa luz divina. Podemos vê-la em todos os seres vivos, inclusivamente uma rosa ou um jacinto têm esse reflexo divino. A terra, a água e as pedras são os seres mais afastados de Deus. Em tudo o que vemos há algo do mistério divino. Vemos que ele cintila num girassol ou numa papoula. Temos uma idéia mais clara desse mistério impenetrável numa borboleta que levanta vôo de um ramo - ou num peixe dourado que nada no seu aquário. Mas estamos mais próximos de Deus na nossa própria alma. Só aí podemos unir-nos ao grande mistério da vida. Em momentos raros podemos sentir que nós mesmos somos esse mistério divino. As imagens que Plotino usa fazem-nos recordar a parábola da caverna de Platão. Quanto mais nos aproximamos da entrada da caverna mais nos aproximamos da origem de tudo o que existe. Mas, ao contrário da clara bipartição da realidade em Platão, o pensamento de Plotino denota uma experiência do todo. Tudo é Uno - porque tudo é Deus. Mesmo as sombras na caverna de Platão são um fraco reflexo do Uno. Plotino experimentou algumas vezes no decurso da sua vida a fusão da sua alma com Deus. Damos a isso o nome de “experiência mística”. Plotino não era o único a ter essas experiências, que foram relatadas por homens de todos os tempos e culturas. Podem descrever a sua experiência de um modo completamente diferente, mas as suas descrições apresentam muitas semelhanças importantes.

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